Translate

sábado, 24 de novembro de 2012

Ômega-3 : Panacéia sem efeitos colaterais?


Desconheço atualmente quem não saiba relatar pelo menos uma boa indicação do ômega-3. Afinal, alardeado por médicos, nutricionistas e apresentadores de televisão, esta "gota dourada de saúde" é o medicamento da moda dos últimos 3 anos. Assim como foi a "cartilagem de tubarão", o "óleo de linhaça", a "ração humana"....e porque não falar também do "elixir  paregórico" e da "coca-cola", esta lançada inicialmente em 1886 pelo farmacêutico John Pembertom.

A verdade é uma só: por trás dos supostos e reais benefícios destes produtos, há uma grande indústria que manipula o consumo desenfreado e indiscriminado de tais "medicamentos" pela população.
E a sociedade, na ânsia de saúde, da beleza e de retardar o envelhecimento ( afinal vivemos em uma era de culto aos jovens), rende-se ao apelo sobretudo midiático. "Omega-3: você ainda não tomou?! é ótimo!" diz uma apresentadora, "Combate o envelhecimento, reduz os triglicérides, tira suas dores e inflamações, diminui os ataques cardíacos e deixa você mais disposto! O que você está esperando? Tome agora!"...( Compre, compre, compre!!!)
Não faço aqui nenhuma apologia à "criminalização do uso do ômega -3"! Muito pelo contrário, creio em seus efeitos benéficos à saúde quando bem indicado e usado; entretanto, como quase todos os medicamentos, o seu uso é passível de efeitos colaterais...e muitos.

Bem, certamente você não verá isto alardeado na televisão. Distante dos consultórios médicos, será difícil alguém conseguir falar sobre os efeitos colaterais do ômega-3. " É um remédio natural, não é Dra.? Comprei  6 caixas na promoção da televisão, não faz mal nenhum."
Há meses comecei a ficar intrigada com a incidência crescente de dispepsia (má-digestão), crises de gastrite e diarréia entre os meus pacientes, sobretudo entre os idosos. E em uma anamnese dirigida a resposta era quase sempre a mesma: " Sim, dra. Comecei a tomar 3 cápsulas de ômega-3  por dia." O tratamento para tais problemas digestivos era sempre efetivo: suspender e/ou diminuir o uso do medicamento.

Desta forma, elenco aqui alguns dos efeitos colaterais comumente encontrados ao uso do ômega-3:


  • Intoxicação por metais pesados
  • Diarréia
  • Dispepsia (arrotos, náuseas, má-digestão, dor abdominal, gases aumentados e empachamento)
  • Gosto amargo na boca (peixe)
  • Reações alérgicas (prurido e erupções cutâneas)
  • Ganho de peso
  • Cefaléia
  • Sangramentos e tendência a sangramento ( principalmente em pacientes que usam  medicamentos anticoagulantes/antiagregantes plaquetários)
  • Elevações dos níveis de LDL Colesterol
  • Sobrecarga metabólica e aumento das enzimas hepáticas
  • Interações com outros medicamentos em uso

À tempo, pesquisa publicada pelo Instituto Nacional do Câncer Americano - Washington, em julho de 2013, demonstra que  os homens que consomem suplementos de ômega-3 têm maior probabilidade de desenvolver câncer de próstata. O estudo destaca ainda que este risco é da ordem de 71%.
"Demonstramos, mais uma vez, que o uso de suplementos nutricionais pode ser prejudicial", disse Alan Kristal, pesquisador do Centro Fred Hutchinson de Pesquisa do Câncer e principal autor do artigo.

Você já tinha ouvido falar sobre isto?

Bem, busco com este artigo alertar a população para o risco da automedicação. Nada com a alcunha de "natural" é desprovido de efeitos colaterais. Até mesmo a Água em quantidade excessiva pode levar o indivíduo à morte por intoxicação hídrica.
Não use medicamentos, suplemento alimentares e vitaminas sem a adequada orientação de seu médico.
E lembre-se: mais do que em "pílulas mágicas", a saúde está na prática de uma alimentação saudável, atividade física, na prevenção de doenças (visitas regulares ao médico) e no equilíbrio da mente.  

Abraços a todos!


Não se automedique, cada organismo é único. O que faz bem para uma pessoa talvez possa lhe causar problemas de saúde.

De acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 18% das mortes por envenenamento se devem à automedicação.  
O Brasil está entre os 5 maiores consumidores de medicamentos do mundo e a facilidade em adquirir remédios sem prescrição médica e o baixo controle das propagandas de produtos farmacêuticos ajudam a explicar a presença do País neste ranking.