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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Helicobacter pylori: a bactéria resistente ao meio ácido do estômago

Em tempos de cientificismo e de profusas descobertas científicas, realmente podemos dizer que a Medicina é uma ciência de verdades transitórias. Explico.
Quando se poderia supor, há poucas décadas passadas, que lesões ulcerosas gástricas poderiam ser tratadas por meio de antibióticos e não com a técnica cirurgia de Gastrectomia?
Sim; em idos tempos não muito distantes, a cirurgia que retirava parte do estômago de um paciente com úlcera gástrica era um dos únicos tratamentos efetivos para a cura da doença.
É neste cenário de ciência e novas descobertas que os pesquisadores  australianos WARREN e MARSHALL, em 1983, isolaram a "Helicobacter pylori" no estômago de pacientes com gastrite crônica e levantaram a hipótese de que esta bactéria fosse a causadora da doença.
A relevância de suas observações, entretanto, foi tardiamente reconhecida e laureada com o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 2005, pela descoberta da "Bactéria Helicobacter pylori e seu papel na etiopatogenia da gastrite e da doença ulcerosa péptica".



O que é " H. pylori"?

É uma bactéria espiralada que se adere à mucosa gástrica por meio de seus flagelos. Infecta o estômago e ali sobrevive em meio ácido tão hostil graças a sua capacidade de converter a uréia presente no suco gástrico, em amônia e gás carbônico.
O "H. pylori" tem cepas com diversidade genética e virulências variáveis, causando doenças como Gastrite Crônica, Úlceras pépticas gástricas e duodenais, Adenocarcinoma Gástrico e Linfoma MALT.

Embora a organização Mundial de saúde (OMS) estime uma alta taxa de infecção entre a população mundial ( em torno de 50%), muitos indivíduos infectados não desenvolvem sintomas ou dano gástrico. Contudo, ainda assim, 17% dos indivíduos infectados desenvolverão úlcera péptica, 4% destes têm complicação da úlcera e 1% progredirá para o câncer gástrico.
A OMS considera o "H. pylori" um agente carcinogênico.

Uma vez assestada na mucosa do estômago, a bactéria produz uma série de citotoxinas e enzimas tóxicas que destroem as células gástricas e desequilibram os mecanismos de defesa epitelial.



Qual a sua prevalência?

A infecção pelo "H. Pylori" é universal, mas se observa que é significativamente menos prevalente nos países industrializados.
A infecção pela bactéria ocorre comumente na infância, atingindo taxas de 30 a 50% e persistindo no estômago a menos que tratada. A prevalência entre adultos nos países em desenvolvimento é em média de 80%, enquanto em países desenvolvidos é menor que 40%.
Estudos epidemiológicos realizados no Brasil evidenciaram que a prevalência da infecção é semelhante entre homens e mulheres, aumenta com a idade e é maior nas classes econômicas mais baixas.


Como se adquire o " H. pylori"?

A infecção dá-se geralmente por contato direto ou ingestão de água e alimentos contaminados.
O exato mecanismo de transmissão ainda é desconhecido. É consenso universal que a bactéria só consegue alcançar a mucosa gástrica pela boca, pois não é um microrganismo invasivo.
A cavidade oral tem sido proposta como reservatório de infecção e reinfecção pelo "H. pylori", pois a regurgitação do suco gástrico pode contaminar a boca.




Quais os sintomas?

A infecção pelo "H. pylori" poderá evoluir de forma sintomática ou assintomática.
Embora a imensa maioria das pessoas infectadas não apresente repercussões clínicas, um grupo pequeno estará exposto ao desenvolvimento de gastrite, úlceras pépticas e, em um menor grau, ao risco de neoplasias.
Os sintomas, quando presentes, podem ser: dor epigástrica (estômago),  desconforto abdominal, empachamento, náuseas, vômitos, dor de cabeça, halitose, fraqueza, entre outros.


Diagnóstico

Os exames que detectam a bactéria são divididos em :

Invasivos
São aqueles que requerem tecido gástrico para detectar o microrganismo:
  • Endoscopia digestiva alta com biópsias
  • Teste da urease
  • Estudo histológico
  • PCR
  • Cultura
Não Invasivos
  • Antígeno do "H.pylori" nas fezes
  • Sorologia de anticorpos IGM e IGG para HP no sangue
  • Teste Respiratório

Tratamento


É realizado com esquema terapêutico específico que envolve a combinação de dois antibióticos e protetores gástricos. O tratamento dura cerca de 7 dias e a taxa de erradicação da bactéria é em torno de 90%.


Reinfeção e Resistência bacteriana

A recorrência do "H. pylori", após a erradicação bem-sucedida, é rara em países desenvolvidos e mais frequente em países em desenvolvimento, ficando em uma proporção de 2,6% e 13%, respectivamente.
Outro problema comumente enfrentado atualmente é a resistência do "H. pylori" aos antibióticos  usados na sua erradicação.
Nestes casos, é feito o retratamento com novos esquemas terapêuticos, que contemplam outras classes de antibióticos e têm duração de 10 a 14 dias.