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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Esteatose Hepática - gordura inocente no fígado ?

A Esteatose Hepática (EH) , também conhecida popularmente como "fígado gorduroso" , é o acúmulo de gordura no interior das células hepáticas ( hepatócitos), excedendo 5% o peso do fígado.
Nas últimas 3 décadas, o "fígado gorduroso" tem sido alvo de grande interesse e investigação científica.
Pensava-se anteriormente que este processo só ocorresse nos casos de ingestão excessiva de álcool (esteatose alcoólica), porém esteatose não alcoólica pode ocorrer em diabéticos, em obesos ou com sobrepeso (faixa intermediária entre o normal e a obesidade), nos que usam certos tipos de medicamentos ou são expostos a algumas substâncias, nos desnutridos e em pessoas com distúrbios do metabolismo lipídico (colesterol e/ou triglicérides elevados). Outra condição que é associada à presença de esteatose hepática é a hepatite C crônica.
Desta forma, podemos dividir os pacientes que podem apresentar EH em 3 grupos:
  • Etilistas crônicos / ingestão abusiva de álcool
  • Portadores de Hepatites virais crônicas ( especialmente hepatite C )
  • Portadores de doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA)


A prevalência mundial da DHGNA na população é em torno de 20%  e  atualmente a EH é diagnosticada com maior frequência devido a ampla utilização dos métodos de imagem ( ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética ) no diagnóstico de doenças abdominais.


Classificação e principais causas de DHGNA

Há vários motivos pelos quais o metabolismo natural de gordura pode ser alterado e levar à DHGNA.
O mais estudado está relacionado a resistência dos tecidos ao hormônio insulina, que regula e influencia todos os processos metabólicos que envolvem açúcares e gorduras. Com a resistência à insulina, há aumento da lipólise (transformação dos lipídeos em ácidos graxos, especialmente na forma de triglicérides), com o aumento no aporte de ácidos graxos ao fígado.

Causas:

Primária
Resistência a insulina 
  • Diabetes mellitus tipo 2 ou intolerância à glicose
  • Obesidade
  • Hiperlipidemia ( colesterol/triglicérides elevados )
Medicamentos
  • Corticosteróide ( reumatismos, asma )
  • Estrogênios ( anticoncepcionais )
  • Amiodarona ( arritimias )
  • Metotrexato 
  • Nifedipina ( hipertensão )
  • Salicilatos ( AAS )
  • Tamoxifeno
  • Tetraciclina
  • Isoniazida
  • Cloroquina
Secundária
Cirurgias
  • Gastroplastia 
  • Bypass jejunoileal 
  • Ressecções extensas do intestino delgado
  • Derivação biliopancreática
Outros
  • Abeta/hipobetalipoproteinemia
  • Doença de Weber-Christian
  • Toxinas industriais
  • Diverticulose  com supercrescimento bacteriano
  • Desnutrição proteico-calórica
  • Nutrição parenteral prolongada
  • Perda rápida de peso
  • Hipotireoideismo
  • Lipodistrofia
  • Doença inflamatória intestinal
  • Infecção por HIV

Pode ocorrer desde apenas a presença de gorduras no fígado (esteatose) até a esteato-hepatite (inflamação), fibrose e cirrose hepática. O principal mecanismo conhecido é a resistência insulínica (os tecidos não respondem bem à ação da insulina), comum nos diabéticos tipo II e nos obesos.
 
 
A ilustração acima nos mostra as diferenças entre um fígado saudável e um esteatótico. Observem o tamanho e a coloração amarelada do fígado gorduroso. Nas imagens de biópsias, pode-se notar a presença de gordura ( branca ) no meio do tecido hepático.



Qual o risco de se ter um "fígado gorduroso" ( esteatose hepática)?

A esteatose hepática, em si, não é uma doença, mas reflete uma doença metabólica.A EH pode ser encontrada isoladamente ou associada a achados necroinflamatórios das células do fígado, caracterizando a Esteato-Hepatite.  Infelizmente, por um motivo ainda desconhecido, o organismo desencadeia uma inflamação contra os hepatócitos com acúmulo de gordura, que são gradualmente destruídos. Dependendo da intensidade desta destruição, isso pode levar à formação de fibrose (cicatrizes) que vão se acumulando e progredindo até a formação de nódulos, o que caracteriza a cirrose. Nesta fase a função hepática encontra-se seriamente comprometida, às vezes, de forma irreversível.
Estudos populacionais demonstraram ainda que provavelmente grande parte das cirroses previamente sem causa definida pode ser atribuida a esse tipo de hepatite.


Quais são os sintomas de EH?
A maioria dos pacientes não apresenta sinais ou sintomas de doença hepática na ocasião do diagnóstico, embora alguns pacientes possam relatar fadiga, mal-estar, dor ou desconforto no quadrante superior direito do abdomem. Hepatomegalia (aumento do fígado) pode ser o único achado ao exame físico, ao passo que achados de doença hepática crônica ou diminuição do número de plaquetas sugerem doença avançada.

Como é realizado o diagnóstico de EH?
Em geral, o diagnóstico é feito de maneira acidental pelo encontro de elevação nas enzimas hepáticas ( ALT e AST ) e/ou pela presença de esteatose ao ultrassom de abdomem ou pelo encontro de hepatomegalia ao exame físico.
Alteração dos níveis de ferritina é encontrada na metade dos pacientes. Os valores sanguíneos dos triglicérides estão mais frequentemente elevados do que os níveis de colesterol e a concentração sanguínea do HDL (bom colesterol) está geralmente reduzida, parecendo existir uma relação inversa entre os valores do HDL e a intensidade da esteatose.

Esteatose versus esteato-hepatite


A diferenciação entre a esteatose "simples" e a esteatose com inflamação associada nem sempre é fácil e só pode ser confirmada pela biópsia hepática. A elevação das aminotransferases (AST e ALT), na ausência de outras causas (como a hepatite C, que tende a cursar com o aparecimento de uma esteatose), geralmente indica a presença de inflamação. Um dos sinais laboratoriais mais precoces, apesar de pouco específico, é o aumento da gama-glutamil transferase (GGT).
Uma esteatose hepática leve normalmente não causa sintomas ou complicações. Porém, quanto maior e mais prolongado for o acúmulo de gordura, maiores os riscos de lesão hepática. Quando há gordura em excesso e por muito tempo, as células do fígado podem sofrer danos, ficando inflamadas. Este quadro é chamado de esteato-hepatite ou hepatite gordurosa. Se não tratado, pode evoluir para cirrose.
Estudos epidemiológicos definiram que os pacientes com maior risco para progressão da doença são: maiores que 45 anos, relação AST/ALT > 1, obesidade e diabetes.



Qual o tratamento da esteatose hepática?

Não existe tratamento específico para esteatose. O alvo deve ser o tratamento dos fatores de risco citados acima. A fase de esteatose pode ser reversível apenas com alterações dos hábitos de vida.

Nos casos de esteatose associada ao consumo do álcool, a abstinência torna-se mandatória. Nos casos de pacientes portadores de hepatite C, a erradicação viral é acompanhada, em geral, com o desaparecimento da esteatose. Em muitos casos,  suspendendo-se o uso de algum medicamento hepatotóxico ou afastando-se da exposição a produtos tóxicos, temos a melhora do quadro esteatótico.
Sendo a obesidade um fator importante para o aparecimento da doença hepática gordurosa não alcoólica ( DHGNA), a redução de peso naqueles pacientes obesos tem sido a primeira iniciativa.
A perda de peso é uma importante medida, porém, não deve ser muito rápida ( máximo de 1,5 kg por semana) para não piorar do quadro de deposição de gordura no fígado . A prática regular de atividade física e a redução da ingestão calórica também ajudam muito, pois diminuem o colesterol e aumentam o efeito da insulina.
Diversos tratamentos farmacológicos para DHGNA estão sendo propostos, mas nenhum tem estudo comprobatório da sua eficácia. Os mais promissores são: genfibrozil ( hipolipemiante ), acido ursodeoxicólico ( reduz ácidos biliares, imunoprotetor e estabilizador de membrana ), agente antioxidantes (N-acetilcisteína,betaina e vitamina E ) e agentes que atuam na redução da resistência períferica à insulina ( metformina e glitazonas). Aguardamos futuras pesquisas onde estes agentes serão utilizados em estudos duplo-cego, placebo controlados.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Síndrome do Intestino Irritável - Importante impacto na qualidade de vida

A Síndrome do intestino irritável (SII) é uma das afecções mais comuns do aparelho digestivo nos países ocidentais, caracterizando-se por dor e desconforto abdominais recorrentes associados à alteração do hábito intestinal ( diarréia, constipação ou alternância), na ausência de qualquer anormalidade orgânica.
Os pacientes podem  ainda apresentar  outras queixas como  distensão abdominal, cólicas, flatulência, urgência para evacuar e sensação de evacuação incompleta.
A doença incide em qualquer faixa etária, mas atinge especialmente indivíduos entre 20 e 40 anos, sobretudo as mulheres. Embora esta disfunção tenha uma evolução totalmente benigna, pode levar a um prejuízo significativo na qualidade de vida, pois apresenta um curso crônico, com grandes variações em sua intensidade e, por vezes, superpõe seus sintomas aos de outros distúrbios funcionais do aparelho digestivo, como dispepsias, refluxo gastroesofágico e constipação ou diarréia de origem orgânica.

Quais as causas da SII?
Muito se avançou na última década sobre o conhecimento dos mecanismos envolvidos no desencadeamento e perpetuação dos sintomas desta síndrome, contudo sua fisiopatologia não está totalmente esclarecida.
Entre os mecanismos envolvidos, podemos citar:
  • hipersensibilidade visceral destes pacientes associada à desrregulação de neurotransmissores intestinais, particularmente a serotonina, e seus receptores. ( alteração da regulação do eixo cérebro-intestinal levando a um aumento da sensibilidade intestinal aos estímulos dolorosos).
  • Fatores genéticos
  • Fatores psicossociais ( estresse emocional, ansiedade )
  • Alterações intestinais pós-infecciosas ou inflamatórias (gastroenterocolites)
  • Fatores alimentares (dieta fermentativa)
  • Alterações intestinais motoras ( resposta exagerada e inadequada dos movimentos intestinais aos estímulos alimentares ou emocionais)


Afecções frequentemente presentes nos pacientes portadores de SII:
Doença do refluxo gastroesofágico, afecções genitourinárias, fibromialgia, cefaléia tensional, síndrome da fadiga crônica (SFC), dor temporomandibular (ATM) e transtornos psicológicos.

Ainda que somente uma pequena parcela dos pacientes procure um gastroenterologista ( estima-se apenas 20% destes pacientes), a doença possui  uma importante repercussão na saúde pública, pois é responsável por perdas expressivas de horas de trabalho e por um decréscimo da qualidade de vida destas pessoas.

Como a SII é diagnosticada?
O diagnóstico baseia-se em dados clínicos, a partir de critérios estabelecidos por especialistas e resultantes de avaliações de estudos populacionais, chamados de critérios de ROMA III.
Os exames bioquímicos de sangue, exame de fezes, estudos de imagem ou endoscópico são importantes mas não imprescindíveis ao diagnóstico da doença, uma vez que os critérios de Roma baseiam-se fundamentalmente no quadro clínico: " presença de dor ou desconforto abdominal, geralmente aliviados pela evacuação, de início no mínimo há 6 meses, contínuos nos últimos 3 meses, associados a correlação do aspecto das fezes e sensibilidade evacuatória".
Lembro que na SII, por ser uma doença funcional, ou seja , sem alterações estruturais anatômicas , os exames subsidiários apresentam-se normais.
É importante lembrar que a ausência dos sintomas de alarme para câncer colorretal ( sangramento intestinal, perda de peso, febre, anemia ou massa abdominal palpável ) deve ser pesquisada e confirmada.

Qual o tratamento da SII?
O controle dos sintomas da SII pode ser alcançado por medidas que incluem dietas específicas, manutenção do equilíbrio emocional ( psicoterapia ) e medicação apropriada. Vários tipos de medicamentos são usados para o tratamento da SII, entre eles os reguladores intestinais, os prócinéticos, os bloqueadores do canal de cálcio, os antidepressivos,os inibidores das prostaglandinas, entre outros.
A SII é uma doença crônica e benigna, não relacionada à incidência de neoplasias do aparelho digestivo.
O paciente, com o tratamento, costuma ficar longos períodos assintomático, porém está sujeito a crises agudas, principalmente relacionadas aos transtornos emocionais ou a ingestão de algum alimento a que seu aparelho digestivo tenha maior sensibilidade.
O tratamento também pode ser auxiliado por atividades que passem tranquilidade ao paciente, como a psicoterapia, técnicas de relaxamento, yoga, exercícios físicos, pintura, música,etc.

Como a dieta interfere na SII?
A ingestão de alimentos e o estresse psicológico são os principais fatores desencadeantes e perpetuadores da síndrome. Normalmente os sintomas ocorrem logo após as refeições e em média 35 a 66% das pessoas que apresentam a SII não toleram certos tipos de alimentos.
Para avaliar se isto acontece com você, observe se a ingestão de um determinado alimento provoca diarréia ou constipação; anote os alimentos ingeridos e o número de evacuações/sintomas durante a semana. Vale lembrar que nem todas as pessoas são afetadas da mesma maneira pelos mesmos alimentos.
Alguns exemplos de alimentos que costumam desencadear sintomas na SII: alimentos gordurosos, ricos em sorbitol ( adoçante), latícinios, condimentados, cafeína e bebidas alcóolicas.
No caso da lactose, 25% dos pacientes com a SII podem apresentar intolerância a esta substância, e portanto a dimuição do seu consumo pode evoluir com a melhora dos sintomas em alguns casos. Nos pacientes com constipação, deve-se estimular a dieta rica em fibras. Nos casos em que há distensão abdominal devido a gases intestinais, alimentos como feijão, lentilha, cenoura, uva-passa, damasco, brócolis, couve-flor e cebola devem ser evitados.


Procure sempre um especialista.


Leia Mais: Síndrome do Intestino Irritável - Evitando a crise. Acesse:

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Antiinflamatórios e seus efeitos nocivos no estômago

Os processos inflamatórios são, sem dúvida, problemas bastante comuns em nosso dia a dia.
Inadvertidamente, consumir antiinflamatórios sem prescrição médica é comum não somente no caso de doenças específicas, como artrite reumatóide ou osteoartrite, mas também em muitos outros em que estão presentes fenômenos dolorosos em geral, incluindo dores de cabeça, gripes, contusões e cólicas menstruais.
Em todo mundo, medicamentos aintiinflamatórios não hormonais ( AINHs) e o ácido acetilsalicílico (AAS) são consumidos e por não ter acompanhamento médico, boa parte dos usuários destes e de outros antiinflamatórios apresentam algum tipo de sintoma gástrico, como dor de estômago, azia, náuseas e vômitos, sintomas estes que frequentemente levam à interrupção do tratamento.

O que os AINHs e os AAS podem causar de mal no aparelho digestivo?
O uso destes medicamentos podem proporcionar o aparecimento de sintomas de queimação gástrica, azia, dor e desconforto abdominal, além de complicações como gastrite, úlcera e hemorragias digestivas.

As ações lesivas dos AINHs e dos AAS atinge outros órgãos?
Infelizmente, as ações lesivas dos antiinflamatórios sobre o trato gastrointestinal não se limitam apenas ao estômago e ao duodeno, mas incluem também o esôfago, todo intestino delgado e cólon. Além disto, o seu uso indiscriminado está associado a problemas renais e cardíacos.

O uso de antiinflamatórios aumenta a chance de complicações de doenças?
Sim. as úlceras pépticas têm sua incidência significativamente aumentada com o uso de AINHs, corticóides( antiinflamatórios hormonais) e AAS. As complicações ocorrem de maneira silenciosa, sendo frequente o aparecimento de hemorragia e perfuração do órgão como primeiro sinal. O risco de possíveis complicações é maior se a pessoa tiver mais de 60  anos de idade ou se já possuir uma história pregressa de gastrite ou úlcera.

Fatores de risco para  ÚLCERAS induzidas por AINHs : 
  • Idade maior que 60 anos
  • História prévia de gastrite, úlcera e hemorragia
  • Co-tratamento com corticóides
  • Uso de altas doses de AINHs
  • Associação de AINHs
  • Co-tratamento com anticoagulantes
  • Sexo feminino
  • Tabagismo
  • Infecção por " helicobacter pylori "  
Quais os antiinflamatórios não hormonais mais comuns?
Alguns exemplos: ácido acetilsalicílico, diclofenaco, nimesulida, meloxicam, piroxicam, indometacina, ibuprofeno, celecoxibe. Antiinfamatórios como o celecoxibe e o lumiracoxib são menos agressivos, porém também podem causar complicações renais , cardíacas e gastrointestinais.

Por que os AINHs agridem o aparelho digestivo?
Pois o uso prolongado de antiinflamatórios interfere na capacidade do estômago de proteger-se contra os seus ácidos.
O estômago possui três defesas contra os sucos digestivos: o muco, que reveste a parede gástrica e a protege contar o ácido; o bicarbonato, que neutraliza o ácido do estômago; e a circulação sanguínea gástrica, que ajuda na renovação e reparação celular. Os AINHs interferem nestes mecanismos de proteção e, com as defesas do estômago baixas, os sucos gástricos podem ferir e lesar de maneira superficial ou profunda a mucosa do órgão, desencadeando sintomas e doenças.

Estudos epidemiológicos sugerem que 15 a 40% dos pacientes que utilizam AINHs apresentam algum tipo de sintoma digestivo, sendo que 10% destes pacientes são obrigados a interromper o tratamento devido a severidade dos sintomas. Além disto, de todos os usuários crônicos de AINHs, 10 a 30% poderão vir a desenvolver úlcera péptica, predominantemente úlcera gástrica.
Existe ainda uma grande preocupação quanto ao uso de AAS em baixa dosagem para a prevenção de fenômenos tromboembólicos cardivasculares e seu impacto sobre o trato gastrointestinal. Segundo estudos apresentados no último Congresso Europeu de Gastrenterologia-UEGW de  Londres em 2009, estima-se que a incidência de úlceras com sangramento em usuários crônicos de AAS para a prevenção de eventos cardiovasculares seja de 1,2 por 100 pacientes-ano.

Existe alguma proteção contra os efeitos gastrointestinais lesivos dos AINHs e AAS ?
Atualmente contamos com opções de medicamentos capazes de diminuir a acidez gástrica e proteger o esôfago, estômago e duodeno de tais agressões. Naqueles pacientes que necessitam de uso prolongado ou crônico dos antiinflamatórios faz-se necessária a adequada avaliação dos fatores de risco para gastrite, doença ulcerosa péptica e suas complicações.

Vale lembrar: antiinflamatórios usados de forma incorreta podem ser prejudiciais à saúde.
Como em qualquer outra situação, antes de tomar qualquer medicamento, consulte sempre o médico para obter o melhor tratamento e orientação para  o seu caso.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

30 de Maio - Corrida e Caminhada pela Saúde Digestiva

No dia 30 de maio, em São Paulo, será realizada uma corrida em prol da Gastroenterologia. O evento esportivo comemorará o Dia Mundial da Saúde Digestiva, instituído pela World Gastroenterology Organization (WGO) e celebrado no dia 29 de maio. Este ano, o tema da campanha mundial é “Doença Inflamatória Intestinal”. Com esse mote, a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) tem como objetivo divulgar e chamar a atenção da população para as doenças inflamatórias intestinais (prevenção, cuidados e tratamento). A corrida será organizada pela Corpore Brasil e terá apoio do laboratório MSD.

Corrida Corpore FBG Viva Saudável 25K!

Esta tradicional prova será realizada no dia 30 de maio e trará desafios para todos os níveis de corredores: os que já enfrentaram uma meia maratona poderão aumentar seu desafio e correr 25km, quem quiser ultrapassar os 10 terá a distância de 12,5km e os que estão na caminhada terão 4km.
Com largada às 7h em frente ao Jockey Club de São Paulo e percurso aos arredores, a prova receberá os atletas na arena (no interior do Jockey) a partir das 5h.

Todos os atletas que completarem o percurso recebem medalha e os cinco primeiros colocados masculino e feminino nas distâncias maiores levam para casa troféu. Os atletas que correrem 25km também disputam troféu nas faixas etárias, conforme regulamento.

As inscrições estão abertas!!! Até 7 de maio: R$50 associados; R$65 não sócios. Após essa data: R$55 associados e R$70 não sócios.

Maiores informações no site: www.corpore.org.br

Programe-se e venha conosco fazer a vida mais saudável !

terça-feira, 13 de abril de 2010

Hemorróidas: Sintomas e Tratamento

Hemorróida ou Doença hemorroidária é uma afecção das mais frequentes, estimando-se que cerca de 50% da população tiveram, têm, ou terão a doença em graus variáveis.
Infelizmente, o preconceito, o medo e o constrangimento fazem com que os portadores de sintomas hemorróidários protelem a ida ao especialista e lancem mão da automedicação, mascarando muitas vezes doenças importantes como o Câncer Colorretal.
Um equívoco contudo, se analisarmos que o exame proctológico é um procedimento geralmente rápido e indolor e que grande parte das hemorróidas podem ser tratadas em consultório, sem cirugias.

Afinal, o que são hemorróidas?

O termo hemorróidas refere-se a condição na qual as veias que normalmente existem no final do reto e canal anal se tornam dilatadas( varicosas) e/ou inflamadas. Existem dois tipos principais de hemorróidas:


Hemorróidas Internas - dependendo da sua apresentação é classifida em 4 graus:

1º grau - as veias estão aumentadas em tamanho ou número, porém não há prolapso das mesmas após a evacuação ou esforços físicos
2º grau - há prolapso das veias no momento da evacuação/esforço, que retornam para dentro do canal e reto espontaneamente, após o esforço evacuatório cessado;
3º grau - semelhante ao 2º grau, mas há necessidade de manobras digitais para que as hemorróidas retornem para dentro;
4º grau - as veias ficam permanentemente prolapsadas e exteriorizadas e não retornam para o interior do reto mesmo com manobras digitais.

Hemorróidas Externas - geralmente percebe-se as veias dilatadas externamente, próximo ao orifício anal.

Hemorróidas Mistas - quando existem concomitantemente mamilos hemorroidários interno e externos dilatados

Em outras palavras hemorróidas são veias dilatadas na região anal que podem ser internas, externas ou mistas.

Quais as causas de Hemorróidas?

A natureza exata da doença hemorroidária não é ainda completamente conhecida, mas vários fatores predisponentes são importantes no seu surgimento :
  •  Constipação intestinal (prisão de ventre)
  •  Esforço para evacuar
  •  Obesidade
  •  Diarréia crônica
  •  Prender as fezes com frequência, evitando defecar sempre que há vontade
  •  Dieta pobre em fibras e baixa ingestão de líquidos
  •  Uso abusivo de laxantes
  •  Gravidez
  •  Sexo anal
  •  Predisposição familiar (história familiar de hemorróidas)
  •  Tabagismo
  •  Cirrose e hipertensão portal
  •  Ficar longos períodos sentados no vaso sanitário (há quem ache que o próprio design dos vasos propicie a formação de hemorróidas)
Independente dos fatores de risco, as hemorróidas se formam quando há aumento da pressão nas veias hemorroidárias ou fraqueza nos tecidos da parede do ânus, responsáveis pela sustentação das mesmas.

Quais são os sintomas?

A doença hemorroidária, em boa parte dos casos, é assintomática, sendo diagnosticada ao exame físico; porém as pessoas portadoras de hemorróidas podem apresentar diferentes sintomas, com vários graus de intensidade.


Sangramento - É a queixa principal, mais frequente e, às vezes, a primeira a manifestar-se. Pode ser visto no papel higiênico, gotejando no vaso sanitário ou acontecendo em jato, durante e/ou imediatamente após a evacuação. A hemorragia volumosa é rara, porém a perda de sangue discreta mas contínua pode acarretar um quadro de anemia. É importante lembrar que outras doenças também podem causar sangramento pelo canal anal, como as fissuras anais, as doenças inflamatórias intestinais e os tumores colorretais, motivo pelo qual devemos sempre procurar um proctologista para definir, com precisão, a causa do sangramento.

Prolapso - Caracteriza-se pela exteriorização do mamilo hemorroidário interno, para fora do canal anal, durante o ato evacuatório ou durante as atividades físicas. O mamilo pode retornar espontaneamente ou necessitar ser recolocado, digitalmente, para o interior do canal anal.

Exsudação Perianal - Caracteriza-se pela umidade da pele perianal causada pela presença de muco nessa região. Acompanha-se, em geral, pelo prurido anal e irritação local.

Desconforto Anal - Durante ou após a evacuação pode haver uma pressão anal, definida pelo paciente como um desconforto, porém sem dor anal, porque a simples presença da doença hemorroidária não causa dor. A presença de dor está relacionada às complicações, como a trombose hemorroidária externa e o hematoma peri-anal, ou pela associação com outras enfermidades dolorosas dessa região, como a fissura anal, por exemplo.

Existe risco das hemorróidas se tornarem câncer?


Não. Hemorróidas não são e nunca se tornarão câncer. O problema é que muitas vezes os sintomas do câncer colorretal e anal são idênticos aos da doença hemorroidária. Por isso, diante de qualquer um dos sintomas relatados acima é importante procurar um especialista para estabelecer um diagnóstico diferencial, especialmente em pessoas maiores de 50 anos.



Como é feito o diagnóstico?

Diante dos sintomas relatados pelo paciente, o médico precisa fazer um exame da região anal (exame proctológico) para avaliar o tipo de hemorróida e descartar a existência de neoplasia. Nos pacientes acima de 50 anos e naqueles com risco aumentado para o câncer colorretal a colonoscopia deve ser realizada.
No exame proctológico o médico realiza a inspeção local, o toque retal e a anuscopia e/ou retossigmoidoscopia. Na realização da anuscopia e retossigmoidoscopia é utilizado um aparelho onde há um sistema de iluminação que permite avaliar o canal anal e o reto internamente. Assim, o examinador define o tipo de hemorróida, o que é fundamental para definir o tratamento.

Quais as complicações das  hemorróidas?
Entre as complicações mais freqüentes podem ser destacadas as tromboses, os estrangulamentos, as hemorragias e anemias, as ulcerações com infecção secundária e os abscessos.

Qual é o tratamento?
A terapêutica a ser instituída dependerá do tipo de sintoma apresentado, da sua gravidade, assim como do grau do prolapso. Inúmeros tratamentos clínicos (medicamentoso, crioterapia, fotocoagulação, ligadura elástica) ou cirúrgicos (Técnica convencional, Grampeamento - PPH, Desarterização Hemorroidária Transanal guiada por doppler - TDH) podem ser empregados na abordagem de pacientes com doença hemorroidária, cabendo ao proctologista experiente encontrar o mais eficiente para cada caso.
Atualmente, calcula-se que o tratamento cirúrgico seja reservado para cerca de 10% a 20% das pessoas com doença hemorroidária, sendo a maioria (80%-90%) adequadamente tratada pelas modalidades terapêuticas conservadoras .


Cirurgia Convencional (Milligan-Morgan) - para o tratamento de mamilos hemorroidários internos maiores, que normalmente se exteriorizam pelo orifício anal, ou mamilos externos. As técnicas existentes consistem na retirada do mamilo hemorroidário através de incisões e dissecções cirúrgicas. Para a realização destas cirurgias, em geral, o paciente é submetido à uma raquianestesia  ou peridural e seu período de internação hospitalar, em média, é de 24 horas.

O pós-operatório de hemorroidectomia (cirurgia para hemorróidas) é muito sofrido? Quanto tempo leva para o paciente retornar com as suas atividades do dia-a-dia?


A dor no pós-operatório é determinada por alguns fatores importantes como o limiar de dor individual do paciente e a demora para o paciente evacuar. Atualmente dispomos de um amplo e moderno arsenal terapêutico que visa o controle adequado da dor, a regularização do hábito intestinal e a cicatrização adequada da ferida cirúrgica. Seguramente, o pós-operatório de hemorroidectomia não é desconfortável como alardeado por crenças passadas.
A cicatrização completa geralmente acontece de três a cinco semanas, mas já nos primeiros dias após a cirurgia, o paciente pode retomar suas atividades se estiver disposto, tempo que é muito variável de pessoa para pessoa.


Leia também: Hemorróidas - Avalie seus sintomas

quarta-feira, 7 de abril de 2010

7 de Abril: Dia Mundial da Saúde ( 1000 cidades-1000 vidas )



Em 2010, o tema do dia mundial da saúde é "Saúde e Urbanização". Tal data foi instituída em 1948 para fundamentar o direito do cidadão à saúde, celebrando a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Cuidar de nossa cidade contribui invariavelmente para uma vida mais saudável. Este ano, a OMS destaca os impactos da urbanização em nossas vidas: o trânsito, a poluição ambiental, a falta saneamento básico, o crescimento populacional desenfreado, a alimentação irregular e desregrada, as toneladas de lixos produzidas diariamente, o consumismo cruel...
Paremos para refletir:
  • Como a cidade afeta a nossa saúde?
  • Como promover uma vida mais saudável?
  • Como ajudar a saúde de nosso planeta?
Uma cidade não pode viver sem saúde, e você pode fazer a sua parte para construirmos um ambiente mais saudável e aprazível de se viver!




Recicle, pedale, caminhe, alimente-se melhor, produza menos resíduos, abandone os vícios !
Como "anda" a sua saúde nesta cidade?

sábado, 3 de abril de 2010

Constipação Intestinal: Acerte os ponteiros deste relógio!

O que é Constipação Intestinal e quais são as suas causas?


A constipação intestinal ou "prisão de ventre" não é propriamente uma enfermidade, mas sim um sintoma muito frequente, que necessita de adequada investigação diagnóstica e tratamento. É a segunda queixa mais comum no consultório dos gastroenterologistas.

Caracteriza-se basicamente pela diminuição da frequência das evacuações ( menos que três vezes na semana ) acompanhada de fezes endurecidas ou ressecadas, dificuldade e dor evacuatória, desconforto e distensão abdominal.

Dentre as causas mais frequentes podemos citar o baixo consumo de alimentos ricos em fibras e a baixa ingestão de líquidos. Além delas, temos o sedentarismo, a idade avançada, a gravidez, a obesidade e o uso de determinados medicamentos ( diuréticos, analgésicos, calmantes, anorexígenos, antiácidos entre outros). Vale ressaltar que o uso abusivo e prolongado de laxantes lesa a mucosa intestinal contribuindo também para o mal funcionamento do intestino e constipação.

A constipação intestinal pode ser decorrente ainda de doenças orgânicas ( diabetes mellitus, hipotireoidismo, doenças neurológicas, depressão, hérnias abdominais, tumores gastrointestinais ) ou de distúrbios funcionais inerentes ao intestino ( síndrome do intestino irritável, disfunção do assoalho pélvico entre outras ).



Quando isto é caracterizado como grave?

A constipação intestinal é caracterizada como grave quando não apresenta resposta aos diversos tipos de tratamentos instituídos ( refratariedade ao tratamento ) levando até mesmo a formação de fecalomas ( massa de fezes grandes, duras e imóveis no intestino ) que exigem lavagens intestinais ou cirurgias. Outro caso grave é quando a constipação de início recente vem acompanhada de sinais de alerta: mudança do calibre das fezes, emagrecimento e presença de muco e/ou sangue nas fezes. Tais evidências nos levam a suspeitar de câncer colorretal.



As mulheres sofrem mais de constipação intestinal? Por quê?

A constipação ocorre mais frequentemente acima dos 40 anos e a prevalência é três vezes maior na mulher do que no homem.
Isto ocorre devido a fatores hormonais e também culturais.
Elas possuem a digestão e o trânsito intestinal naturalmente mais lentos, por questões hormonais. Mas o principal motivo para a diferença é cultural. Como as mulheres são educadas desde cedo a não evacuar e nem soltar gases em locais "inapropriados", muitas negam o reflexo da evacuação. Desta maneira o bolo fecal retorna à ampola retal, perde mais água, resseca, endurece e fica mais difícil de ser eliminado.Se a pessoa deixa de evacuar quando o corpo pede, a vontade passa e as fezes ficam mais tempo do que deveriam no intestino grosso. E pior: o esforço evacuatório ao longo dos anos poderá levar à incontinência fecal na velhice.



Quais as consequências da constipação intestinal em nosso organismo?

Cólicas e distensão abdominal, evacuações dolorosas, fissuras anais, doença hemorroidária, diverticulose, alterações da pele, alterações de humor, perda da qualidade vida. A constipação intestinal também está relacionada com o aumento da possibilidade de se desenvolver câncer de cólon, em virtude da lentidão do trânsito intestinal e do consequente aumento da formação e contato de substâncias cancerígenas encontradas nas fezes com a parede do intestino grosso, além da alteração da flora intestinal. Podemos inferir portanto, que a constipação intestinal traz um importante impacto orgânico e psicossocial ao indivíduo afetado.



Como prevenir a constipação? Quais alimentos devem se priorizados e qual é a melhor forma para consumí-los?

A prevenção da constipação intestinal implica em mudanças nos hábitos de vida, passando por medidas dietéticas e comportamentais .

É recomendável uma dieta rica em fibras ( 20 a 35 g/dia ), a ingestão abundante de líquidos ( 1,5 a 2 litros/dia ), uma atividade física regular e o respeito ao reflexo evacuatório: ir ao banheiro sempre que tiver vontade.

Beber muito líquido ( água, sucos naturais, chás ) é fundamental. A água hidrata as fezes e facilita a evacuação.

Deve-se fazer refeições regulares ( café -da-manhã, almoço e jantar ) e alimentar-se de 3 em 3 horas, comer devagar e mastigar bem os alimentos .

Evitar a ingestão excessiva de alimentos constipantes , tais como massas, farináceos refinados, bolos, batata, chocolate, chá preto e mate.

Evitar o uso abusivo de laxantes pois muitos deles mesmo sendo de venda livre e a base de plantas, podem causar efeito irritativo no intestino se usados a longo prazo, sem contudo regular a sua função. Além disso, podem mascarar um problema mais sério.Utilize medicamentos apenas com orientação médica.

As fibras estão presentes na maioria dos alimentos não industrializados, como frutas, verduras, legumes, cereais e no pão integral.

Os principais alimentos que contem fibras são: vegetais ( legumes, verduras, raízes ) , frutas ( frescas e secas ), leguminosas ( feijão, lentilha, ervilha, grão-de-bico, soja, fava ) cereais integrais ( aveia, granola, farelo de trigo ), oleaginosas ( noz, avelã, amêndoa, castanha ) e gergelim.

Uma alimentação rica em fibras pode prevenir uma série de doenças, como constipação intestinal, hemorróidas, colesterol elevado, doenças cardíacas e o câncer colorretal.São alimentos com alto teor de vitaminas e sais minerais além de serem nutritivos e bem pouco calóricos.Mas atenção: o consumo excessivo de fibras também pode ser prejudicial à saúde.

Prefira por exemplo pão feito com cereais integrais, arroz integral, frutas e verduras cruas . Frutas preferencialmente com casca . O cozimento de verduras e frutas reduz a quantidade de fibras e vitaminas .


Para quem já apresenta o quadro, como é o tratamento?

Reeducar o intestino depois de anos travando a evacuação requer tempo e dedicação.

O tratamento da constipação intestinal envolve medidas dietéticas, mudanças do hábito de vida e terapia específicas com medicamentos que atuem na causa do quadro, quando esta estiver indentificada. Atualmente estudos mostram que os alimentos probióticos, que contém microrganismos vivos adicionados à fórmula, melhoram o trânsito intestinal e estão sendo largamente empregados no tratamento desta condição.



O intestino preso gera alguma consequência estética ou emocional?

Sim. Alterações de pele como a acne são comuns e a distensão abdominal está muitas vezes associada a uma percepção corporal desagradável e a dificuldade de uso do vestuário habitual. Distúrbios de humor, ansiedade e depressão são frequente nestes pacientes. Não é à toa que o termo "enfezado" remete a um intestino repleto de fezes.

Dra. Terry R. de Medeiros - Entrevista concedida à Revista Mais Sáude, Novembro de 2009.